segunda-feira, 5 de agosto de 2013

TOM, Meu irmão mais novo.







TOM, Meu irmão mais novo.








Dados Internacionais de Catalogação




Sampaio, Thiago Macedo. TOM, meu irmão mais novo. - 1. ed. – Salvador-Ba: TMS Produções, 2012. Disponível em:<http://tmsnovoscontos.blogspot.com.br/>.










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Thiago Macedo Sampaio










Novos contos




TOM, meu irmão mais novo




Primeira edição










TMS Produções










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TOM, MEU IRMÃO MAIS NOVO

Thiago Macedo Sampaio




Revisão: Mercia Verbena Macedo Sampaio






















Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou duplicada sem autorização expressa do autor e da editora.







Direitos para essa edição

TMS Produções

Trav. 3 da Rua Francisco Gil, 29 – Paraíso

46880-000 –Itaberaba-Ba

Tel.: (71) 9307-7060 ou 8878-8851



Publicado no Brasil pela primeira vez em setembro de 2012





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DEDICATÓRIA



Dedico aos alunos da Escola Municipal Maclina Maria da Glória, que fica em Vilas de Abrantes, Orla de Camaçari, na Região Metropolitana de Salvador, na Bahia, no Brasil. Meus amigos, irmãos e filhos, espero nunca apagar as alegrias que me proporcionaram ao longo do ano de 2012 guardadas a sete chaves em meu coração. De igual modo, o dedico aos excelentes profissionais que compõe a referida Escola, com exceção da Gestão 2012, na qual o conceito de excelência é questionável. Ainda, em especial, a Natan, grande amigo.



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SUMÁRIO

Apresentação



Cap. I – Filhote, surpresa!


Cap. II – Tom e Eu em casa


Cap. III – Tom, Eu e eles


Cap. IV – O estopim


Cap. V – O acorda para a vida


Cap. VI - Natal em família


Biografia

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Apresentação




Este conto fictício tem por finalidade discorrer sobre uma situação de conflito familiar –o individualismo parental.




E nesse sentido, aborda uma série de outros problemas sociais, como a homofobia, os crimes passionais, a modificação no cenário demográfico nacional pelo migrar dos jovens do interior para as capitais em busca de aprimorar seus estudos e de conseguir melhores oportunidades de trabalho.




Ainda, cabe ressaltar que o presente conto traz uma linguagem simples voltada para a melhor compreensão por parte de crianças e adolescentes, público alvo desta produção, e que ainda assim, abrange assuntos interessantes a todas as idades.







Capítulo I

Filhote, surpresa!




No relógio marcava 8 horas da manhã, embora o relógio estivesse adiantado 1 hora, precauções minhas para não me atrasar ao ir trabalhar.




Então, na hora descrita, meu celular tocou a música "eu também vou reclamar" do ilustríssimo e finado poeta baiano Raul Seixas que eu optara por toque:




- To dormindo. Dizia eu com prosa irônica.




- Pode levantar, uma hora da tarde e ainda ta deitado, se ainda morasse comigo não teria essa folga. Resmungava minha mãe que morava na Chapada Diamantina, no interior da Bahia, local no qual tive a desventura de nascer.




- Ta bom minha mãe já levantei, diga o que deseja essa hora da manhã. Na verdade eu continuava deitado e novamente estava sendo irônico.




- Tome um banho, escove os dentes, faça a barba, corte as unhas vista uma roupa limpa e vá buscar seu irmão na rodoviária que está indo morar com você na capital, cuide bem dele e venham para cá no Natal, juízo e Deus ti abençoe. Em seguida, Dona Vanusa desligou o telefone para evitar meus questionamentos.




Dona Vanusa falava pelos contovelos, quando me ligava disparava a narrar histórias e resenhas, coisa era quando tinha alguém perto que ela também colocava para falar comigo, tanto fazia eu conhecer a pessoa ou não.




Minha mãe chegava a assustar na forma que ela controlava minha vida mesmo fazendo 10 anos que já não vivíamos juntos, e quando ela disparava a falar o melhor era deixar o celular gravar a conversa para depois analisar a fundo já que de tempo em tempo ela perguntava se eu já havia esquecido de determinado assunto que ela dissera em determinado dia.




Enfim, conviver com Dona Vanusa era fazer curso intensivo de secretariado e arquivologia, já que as conversas eram reduzidas a atas e arquivadas.




Mas naquela manhã cometi a imprudência de voltar a dormir.




Mais tarde, por volta das 12 horas comecei lentamente a acordar e recuperar a consciência, foi quando dei um pinote da cama ao perceber que minha mãe realmente havia ligado, e que a notícia de que meu irmão Tom estava chegando em Salvador para morar comigo era um pesadelo real.




Daí, corri e saltei todas as recomendações de minha velha porque já estava atrasado, só peguei o vale transporte e segui no primeiro ônibus rumo a rodoviária.




No caminho eu resmungava sozinho dentro do ônibus:




- Oxente, só tenho 26 anos e já vou ter que bancar o padastro de um moleque de 17 anos, na idade dele eu já completava 1 ano morando sozinho na capital, período no qual eu já trabalhava e estudava.




Precisei parar de resmungar sozinho por que no ônibus já estavam me olhando e imaginando: “aquele menino deve estar maluco, veio o caminho inteiro conversando sozinho”.




Não sei exatamente se foi o que imaginaram, mas foi isso ou me acharam bonito porque não paravam de me olhar, desde os novinhos até as piriguetes do fundão.




E olhe que este estado compulsório maluco de falar sozinho não era exclusividade minhas, vez que tanto minha mãe quanto minha avó também vive a conversarem com o vento, o que me leva a crer que devemos ter algum defeito genético.




Mas enfim, chegando na rodoviária, ainda torcia para o ônibus ter atrasado, já que aquele abençoado era tão maquiavélico que ligaria para minha mãe assim que não me visse no desembarque, e foi o que de fato aconteceu.




Levei um susto quando vi Tom sentado no desembarque, pense a visão do inferno, ele vestiasse e se comportava quase como uma menina e ainda de quebra estava com um namorado que morava em Salvador, mas que ao teclar comigo, ele apenas denominava: "Amor".




Isso mesmo que vocês entenderam, Tom estava com o NAMORADO, palavra forte que me assustava só de saber que existia no emprego entre pessoas do mesmo sexo.




Tom era gay e nem minha mãe e nem ele mesmo tinham me contado.




Mas sempre foi assim, tudo que eu falava ou omitia era errado e tudo que Tom fazia era normal, era fase dele, e que eu na condição de irmão mais velho precisava entender e aprender a lidar com o chamado irmãozinho.




Tom era praticamente uma menina, mas eu só lembrava de meu irmão casula, o moleque que crescería para me dar muitos sobrinhos.




E pense num gay evidentemente afetado e fechativo! Agora multiplique por 10. Este era Tom, meu irmão mais novo.




Pense num juízo pertubado era o meu naquele momento, em decorrência do calor insuportável que fazia em Salvador, acrescido pelo ônibus cheio, pelo trânsito congestionado, além do excesso de barulho dos vendedores ambulantes vendendo mídias musicais piratas e que disputavam a potência de seus sons.




Com a mente apertada eu olhei para Tom, cumprimentei e montei guarda para seus comentários infelizes.




Rindo, Tom já me recepcionou destilando veneno:




- To com minha mãe ao telefone, já disse que você atrasou e que ti vi chegar mal vestido, sem escovar os dentes, de barba e unhas grandes, disse que você está um bagaço. Gargalhava Tom, tirando onda com a minha cara.




Para não falar com minha mãe naquele momento de espanto tomei o celular da mão de Tom e simulei a queda da ligação.




- Venha e dê um abraço em teu irmão. Disse Tom de braços abertos.




Olhei para ele bravo e hesitei por alguns segundos, tempo em que aproveitei para alertá-lo que em caso de mais uma gracinha daquelas o deportava dali mesmo de volta para Chapada Diamantina.




Por fim, cedi um pouco e abracei sim.




Mas ainda estava bem constrangido com a situação, olhava para os lados com medo que alguém na rodoviária me reconhecesse e presumisse que eu também fosse gay.




Aonde em toda minha vida eu abraçaria outro homem em um local público, ainda que fosse parente! Vim da Chapada Diamantina, que é praticamente um oasis meio ao sertão, lá aprendi as lições do cabra macho com meu pai e tios:




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LIÇÕES DO CABRA MACHO




Homem macho não chora

Homem macho não diz: “eu te amo”

Homem macho não escreve carta de amor

Homem macho não faz tarefas domésticas

Homem macho não abraça outro homem

Homem macho arrota quando termina de comer

Homem macho escarra ao escovar os dentes

Homem macho cospe no chão o tempo todo

Homem macho coça o saco o tempo todo

Homem macho não pede ajuda

Homem macho controla mulher mesmo que na base da porrada.”

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Quando pensei que o dia não podia ficar pior, Tom me apresenta ao namorado.




- Este é Diego, meu namorado, ele mora perto de você, também na orla.




- My brother! My love e também teu brother fala muito bem de você, ele tem muito orgulho de ser seu irmão, você é a Madona dele. Afirmou Diego para mim em um show a parte.




Todas as características físicas e comportamentais que descrevi sobre Tom multiplique desta vez por mil e visualizará Diego.




Com cabelo rosa choque, calça branca colada, blaiser amarelo cheio de brilho, bolsa feminina e usando batom, Diego parecia uma árvore de Natal.




Estarrecido, eu encarava Diego sem palavras e já me preparava para afastá-lo caso ele quisesse me abraçar também.




Tom percebeu meu choque e evitou que eu criticasse tudo em Diego.




- Não dê muita ousadia a meu irmão não Diego porquê ele vai ficar se achando muito. Disse Tom rindo descontroladamente.




Me sentia em um circo de horrores, rogando pela hora que entraria um apresentador de televisão para informar que eu havía caído numa pegadinha, momento que não chegou e minha triste sorte foi então compreendida.




Enquanto Tom se despedia de Diego peguei sua bagagem e o aguardei na Estação Iguatemi, que é o principal terminal de transporte coletivo local de Salvador.




Tudo que antes me incomodava já não era mais tão ruim: som dos vendedores ambulantes; trânsito congestionado; e calor absurdo. Percebi que o problema estava em minha vida e não do meio ambiente.




Eu e Tom fomos de ônibus para minha casa, agora casa dele também, aliás eu já nem sabia mais.




Eu quase não conversava, anestesiado, em choque, ao tempo em que Tom resenhava uma história atrás da outra, com sua forma exagerada de se expressar, cheia de gestos, caras e bocas, elevação da voz, em resumo, nada discreto.




Percebi ali que minha pacata vida estava em transformação.







Capítulo II

Tom e Eu em casa




Logo nas primeiras semanas percebi que Tom apesar de ter 17 anos tinha mentalidade de 12 anos, e nenhum senso de organização.




Tom ficava o dia inteiro acessando a internet, espalhava roupa suja e toalha molhada por toda a casa e não lavava nem o prato que comia, em outras palavras, era um peso morto.




Por outro lado, por mais que eu reclamasse do barulho do som alto, adorava vê-lo dançar música pop e cantar em inglês.




De vez em quando, Tom inventava comidas malucas ou fazia receitas que aprendia na tv e na internet.




Com ele em casa era certeza de reclamação de vizinhos, casa suja e contas de luz altíssimas.




Eu dava graças a Deus quando chegava o fim de semana e Tom saía para as praias do Litoral Norte da Bahia com Diego e com amigos.




Era nos momentos em que ficava sozinho em casa que planejava uma maneira de convencer minha mãe de que o melhor para Tom era ficar na Chapada Diamantina com ela.




Eu jurava que só fui feliz enquanto morei sozinho e que a presença de Tom suspendeu meu progresso.




Naquele momento a única certeza que eu tinha é a de que precisava que Tom fosse embora e permanecesse longe de mim.







Capítulo III

Tom, Eu e eles




Certa vez, Tom foi na universidade aonde eu estudava ciências sociais, e fui motivo de chacota com os colegas.




Como Tom não anda, ele desfila, ele conseguiu a proeza de invadir a aula de Metodologia do Trabalho Científico para me avisar que não dormiría em casa e de quebra ainda conseguiu convencer meu professor também bofe a ir em nossa casa no fim de semana.




Minha cara foi parar no chão!




Noutro momento, Tom apareceu todo vestido de rosa choque na missa de domingo, aonde eu o aguardava com uma paquera bem católica e conservadora. A novinha não se importou muito com o estilo pitoresco de Tom, mas a família dela ficou espantada, e em decorrência disso antes do término da mesma semana proibiram nosso namoro.




Foram tantas outras situações constrangedoras que passei a ter vergonha de sair com meu irmão.




Tom foi aprovado no vestibular na mesma Universidade aonde eu estava o que aumentou meu repúdio por suas estravagâncias, vez que no ambiente acadêmico podería prejudicar minha imagem conservadora.




Para se ter ideia, até mesmo a matrícula de Tom no curso de psicologia na universidade foi minha mãe quem fez porque inventei que estava ocupado e não podería ir à universidade naquele dia.




Com o tempo, meu inconformismo com o fato de Tom estudar na mesma Universidade que eu só cresceu. Comecei a evitá-lo dentro da Universidade, e fingir não conhecê-lo.




Nós da turma de ciências sociais sempre gerimos todas as reivindicações dentro da Universidade, em especial nas que era necessário invasão do campus e montagem de acampamento.




Eu era o mais consciente da turma, o menos comunista, logo negociava com a reitoria e apaziguava os excessos dos manifestantes, em especial os que passavam o dia fumando maconha no pátio do campus usando de desculpa a motivação de causar comovência ou o desconforto da administração.




Afinal, como viram, eu não estava errado, pois tinha uma reputação e uma popularidade a zelar.





Capítulo IV

O estopim



Até tentei me adaptar ao jeito extravagante, exagerado e dado de Tom, mas o que ele fez certa tarde foi demais.



Eu vinha escrevendo um artigo científico sobre o preconceito na sociedade brasileira, já havia lido mais de dez doutrinas e já havia produzido mais de vinte laudas no formato digital.



Ao tempo em que fui ao centro da cidade pagar algumas contas no banco e para comprar utensílios domésticos, Tom chamou Diego e um casal de amigos deles, Danilo e Luiza, para uma festinha em minha casa.



Quando cheguei, a casa estava uma bagunça e meu pendrive com o artigo científico salvo estava dentro de um copo de caipirinha.



Estourei e briguei com Tom na frente dos amigos e do namorado e terminei por colocá-lo para fora de casa.



Diego intercedeu com voz alta e me disse que Tom não precisava de mim porque tinha ele.



Agora imagine só, dois irresponsáveis me desafiando, logo a mim, uma pessoa tão centrada!



Naquele dia, Tom pegou sua bagagem e mudou-se para casa de Diego.



Pensei que estava livre e que não era minha responsabilidade, inclusive disse tudo isso para minha mãe quando ligou perguntando o que tinha acontecido.



A coroa resmungou sozinha, mas abafou no interior para que os demais parentes e conhecidos não fofocassem sobre o fato.



Me aproveitei da situação e disse que se ela quisesse eu anunciava nas redes sociais do porque coloquei meu irmão para fora de casa.



Me senti venenoso na ocasião. Estava feliz por ostentar um perfil individualista. O menino bonzinho do interior já não era mais tão besta.



O fato é que com o passar dos dias refleti melhor, sentia falta de meu irmão e das maluquices dele, principalmente quando ele me manda torpedos pelo celular, aonde sempre era objetivo e ao mesmo tempo engraçado, deixando bem claro que ainda estava chateado, do tipo:

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TO VIVO, OBRIGADO !:-)”.

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A cada torpedo me sentia cada vez pior. Será que tería descontado frustrações antigas na pessoa errada? Será que meu irmãozinho realmente estava bem?



Certa sexta-feira, Tom me mandou um torpedo diferente, aonde dizia: "Mano, Diego não é quem eu imaginava, ele é problemático, neurótico e psicótico".



Tom sempre foi nerd e era extremamente culto, ele nunca usava espressões em que o significado não se aplicava exatamente ao contexto. Isso porque, Libriano, meu irmãozinho sempre pensava muito antes de se manifestar sobre determinado assunto, motivo pelo qual era irredutível em suas esplanações.



Sendo assim corrí para pesquisar no google sobre estas qualidades.

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Problemático significa duvidoso, suscetível de complicações.



Neurótico significa um ser com uma reação excessiva da mente e do sistema nervoso aos distúrbios físicos ou a experiências desagradáveis.



Psicótico é a pessoa que vive em um mundo onde a realidade é outra, inatingível por nós ou mesmo por outros psicóticos, mas vive simultanemaente neste “mundo real”. Delírio é o principal sintoma. O psicótico possui um estado anormal de funcionamento psíquico. Mudanças de humor constantes, manias, obsessão.”

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Ainda, por conhecer o jeito exagerado de Tom não levei tão a sério seus comentários sobre Diego, ainda que as suas qualificações sobre Diego fossem tão nocivamente acentuadas.



Tanto Tom como eu, compartilhamos os perfis orgulhosos, e com isso nenhum reconhecia que já estava na hora de dar um basta naquela briga sem cabimento.



Com o astral em baixa liguei para amigos e fomos comer o famoso escondidinho da Mouraria, apostando que a noite de sexta-feira em Salvador me alegraria.



Os bares da Mouraria atraem todos os tipos de público, mas são praticamente a casa dos universitários do Tororó, Nazaré, Barris, Saúde, Garcia e Dois de Julho, locais em que se concentram a maioria das casas dos estudantes do interior do estado, espécies de repúblicas.



Nesta saída estava malzão e exagerei no vinho, quando meus amigos perceberam me levaram para casa.



Entrei em casa e fui direto a geladeira aliviar a ressaca com água, nem bem voltei e praticamente desmaiei no tapete da sala.





Capítulo V

O acorda para vida



Em certo sábado de chuva, aliás o que era novidade em Salvador vez que na capital baiana não tem inverno, acordei triste porque já fazia um tempo que Tom não me ligava e nem mandava torpedos ou e-mail.



Mas algo estava errado naquele dia, eu amanheci agoniado, sentindo um aperto no peito e me esfriou a espinha ao tocar de meu celular.



Mas daí a lembrar onde tinha colocado o celular depois do porre da noite anterior foi difícil. Revirei quarto, sala, banheiro e por último fui na cozinha, só então encontrei o celular tocando dentro da geladeira.



E coração de irmão não se engana, era mesmo Tom falando tão rápido que nem ao certo uma palavra se compreendia.



Comecei a entender o pânico de meu irmão quando Luiza, sua amiga tomou-lhe o celular e começou a me explicar o que estava acontecendo.



Também nervosa, ela explicou que Diego e Danilo estavam tentando matar Tom e ela.



Explicou também que Tom e ela estavam presos na kitnet aonde Tom estava morando com Diego.



Embora eu estivesse ouvindo de Luiza toda a confusão que estava ocorrendo naquele momento com Tom e ela, me perdí em lembranças de minha vida com Tom no interior. Meu irmãozinho sempre tão grudado em mim, sempre tão dependente. Extremamente atrapalhado buscava em mim um espelho para tentar fazer as coisas “certas”, e em contrapartida eu sempre áspero, rude e individualista.



Meu desengonçado e sem sorte só quis a vida inteira que eu, seu super herói, vigiasse suas maluquices e desandos.



Lembrei então que meio a discurssão entre minha mãe e eu no dia em que coloquei Tom para fora de minha casa ela havía dito que foi Tom quem disse que queria morar comigo.



Meu coração ficava cada vez mais despedaçado, tadinho do bichinho, de fato ele me amava muito.



Como bom estudante de ciências sociais comecei a especular o porque de Tom ter desejado morar comigo. Cheguei na conclusão de que a repressão nociva aos homossexuais no interior do Brasil fazia Tom se sentir vunerável a retaliações, e a escolha de viver comigo na capital era motivada pela visualização da segurança que Tom tinha em mim, além da melhor aceitação da condição de vida dele socialmente.



Depois de profunda reflexão nestes minutos de viagem ao centro de minha consciência, me senti um lixo.



Já ciente do palhaço homofóbico que fui pedi para que Luiza me explicasse melhor como se formou a confusão.



Muito nervosa, Luiz contou mais ou menos isso: Diego namorava com Tom e eles eram amigos de um casal, Danilo e Luiza, um casal bissexual; os dois casais brigavam muito, cada um com seu companheiro, com isso as relações já estavam desgastadas; e na intenção de flagrar uma possível traição, Diego simulou viajar, mas retornou a Ladeira dos Travestis, próximo a praça Castro Alves, aonde ficava sua kitnet; ao chegar na kitnet, Diego viu Luiza deitada no colo de Tom; na verdade não houve nada, mas o ciúme criou fantasias na mente de Diego que foi até o trabalho de Danilo e o convenceu de que eles estavam sendo traídos; por conseguinte, Diego e Danilo compraram uma arma na mão de um traficante do bairro e acuaram Tom e Luiza dentro da kitnet ameaçando matá-los assim que saíssem.



Para que eu soubesse melhor o que estava acontecendo, após me explicar o contexto, Luiza colocou o celular no viva-voz próximo da porta, momento no qual ouvi Diego e Danilo conversarem:



- Danilo, eu não tenho coragem de matar Tom pois ainda o amo muito. Ouvia Diego falar com voz roca por estar aparentemente chorando.



- Ok! então eu mato Tom e você mata Luiza, porque também não tenho coragem de matá-la pelo mesmo motivo seu. Retrucava Danilo com voz tensa.



- Então já é! Saiam daí ou vamos invadir e dar fim em vocês mesmo em frente do oratório de minha mãe Iemanjá. Gritava Diego para Tom e Luiza fazendo menção ao oratório que confeccionara para sua imagem de Santa Bárbara, que tanto cultuava.



- Saravá mainha! Pedía Danilo a benção da vaidosa orixá.



- Odoiá minha mãe! Diego também saudava a orixá.



- Vou atirar na fechadura se não saírem em 10 minutos. Berrava Danilo cauteloso por medo da ira de Iemanjá caso o ato fosse consumado dentro da kitnet, frente ao altar de Santa Bárbara.



Danilo e Diego eram tão devotos que estavam ambos usando blusas amarelas em respeito ao sábado, dia de Iemanjá para os fiéis Umbandas ou do Candomblé.



Sorte que minha casa era bem perto da kitnet de Tom e Diego, nem precisei esperar passar ônibus e fui correndo socorrer meu irmãozinho.



Naquela altura eu já havia telefonando para a polícia que estava a caminho e corrí para lá.



Já cheguei azoado, retado mesmo, dei dois pares de gritos nos dois, mas não surtiu efeito, eram jovens que não se submetiam a limites.



Mudando a estratégia tentei acalmá-los apresentando-lhes as consequências negativas que aquela conduta acarretaría.



Continuei tentando conversar com os dois na manha, mas eles não me ouviram.



Quando a polícia chegou já foi aquele bafafa, eles com medo da fama de violenta da polícia de Salvador se entregaram.



A polícia efetuou a prisão de Diego e Danilo e me fez algumas perguntas sobre o caso.



Tom saiu da kitnet já de malas nas mãos, me abraçou e pediu para voltar a morar comigo dizendo me amar e prometendo me ouvir mais.



Luiza ficou com pena de Danilo e seguiu com a viatura para a Delegacia, eu soube que lá ela conseguiu se explicar e fizeram as pazes, mas soube ainda tempos depois que ele a matara por ciúmes. Normal, o cemitério está cheio de almas compreensivas como a de Luiza.





Capítulo VI

Natal em família



Enfim em paz, Tom e eu nos acostumamos um com o outro, nós aprendemos a respeitar nossas diferenças e a convivência ficou muito divertida.



Sei que não foi algo que escolhi para mim, mas morar com meu irmão mais novo fez mais por mim do que eu pudesse fazer por ele, me fez uma pessoa melhor.



Sinto por muitas pessoas julgarem as pessoas por aparência física ou condição comportamental sem dar chances para descobrirem pessoas fantásticas.



Como me foi ordenado, no Natal levei Tom para a Chapada Diamantina e juntos reencontramos minha mãe.



Eu estar novamente no interior era um sacrifício que talvez as pessoas não entendam, por razões que no momento não cabe ressaltar, mas para se ter uma ideia já fazía anos que eu ficava sozinho nos festejos natalinos.



Juntos montamos a árvore de Natal, cozinhamos e nos divertimos muito.



Foi um lindo Natal, o melhor de minha vida.



Ao invés de ler meu cartão natalino no momento da ceia, li meu artigo científico, totalmente reescrito após tantos momentos intensos.



Usei a experiência de conviver com Tom como base de estudo para criticar o preconceito.


Elevando a voz no momento de ler o último parágrafo, que dizia: “Ainda que doutrinas científicas não sejam suficientes para exigir um tratamento e respeito igualitário entre homens, mulheres, crianças e idosos, nos apeguemos a doutrina divina, e lembremos dos ensinamentos de Cristo, nascido nesta mesma data, que nos rogou para amar uns aos outros acima de tudo”.


 
 
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Sugiro a versão dublado do filme Oração para Bobby como dica para complemento de formulação de uma crítica social a este conto.

http://www.youtube.com/watch?v=VR7vOJLfxx4




"Antes de ecoarem amém em suas casas e no local de oração, pensem e lembrem, uma criança está ouvindo" (Mary Griffith - Em memória de Bobby Griffith)

terça-feira, 18 de setembro de 2012

O TELESPECTADOR: O BIG BROTHER




  
Dados Internacionais de Catalogação

Sampaio, Thiago Macedo. O telespectador: o big brtoher. Vol. 1. - 1. ed. – Salvador-Ba: TMS Produções, 2012. Disponível em: <http://tmsnovoscontos.blogspot.com.br/>.





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Thiago Macedo Sampaio



Novos contos

O TELESPECTADOR
O Big Brother

Volume 01
Primeira edição



TMS Produções



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O TELESPECTADOR: O BIG BROTHER
Thiago Macedo Sampaio

Capa e Ilustração: Emille Almeida
Revisão: Mercia Verbena Macedo Sampaio







Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou duplicada sem autorização expressa do autor e da editora.




Direitos para essa edição
TMS Produções
Trav. 3 da Rua Francisco Gil, 29 – Paraíso
46880-000 – Itaberaba-Ba
Tel.: (71) 9307-7060 ou 8878-8851
E-mail: tmsnovoscontos@hotmail.com
Publicado no Brasil – setembro de 2012



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DEDICATÓRIA

Dedico ao casal Miss e Mister orla soteropolitana – Aryelle e Lucas que acompanharam a produção desta obra e que serviram de inspiração para criação do personagem Zé da Rádio. E ainda, faço uma dedicação especial, a um grande amigo, uma pessoa iluminada que hoje, 28.09.2012, abandonou o plano material, surpresa pra todos, vez que, estava na flor da idade, por isso, rogo pra que siga rumo aos braços do pai, meu amigo Bob, ilustre personalidade itaberabense.


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SUMÁRIO

Apresentação

Parte 1 – O sucesso de Zé da Rádio

Parte 2 – O reconto de Bob

Biografia


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Apresentação

Trata-se esta obra, de um conto fictício que visa enriquecer seus leitores com aspectos científicos básicos que permite facilitar a compreensão do comportamento humano.

Também, reliza uma crítica social ao comparar a disparidade de tratamento da sociedade num voto de utilidade público em relação ao voto meramente midiático.

Típico da característica desta fase do escritor, buscou-se ainda, trazer a estrutura literária no linguajar simples, mas foi oportuno inovar conduzindo  o conto à familiarização metodológica da produção textual classificada por “Ata”, embora não dispusesse de extremo rigor.


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Parte 1 – O sucesso de Zé da Rádio

Você conhece algum comentarista de tv? Estou falando daquelas pessoas que passam dias e noites com atenção voltada para os mais diversos programas de tv.

Pois é, sou um tipo desses.

No meu caso é ainda pior do que na maioria dos casos que você deve conhecer.

Sou professor aposentado e já não saio, daí fico a semana inteira ligado em minha velha televisão preto e branco.

Esta rotina me rendeu o apelido de Zé da Rádio.

Virei uma espécie de guru da tv no bairro.

Minha casa só anda cheia de pessoas que aguardam minhas análises sobre o destino dos personagens de telenovelas ou meu parecer de favoritismo aos prêmios de reality show.

Por sinal, hoje é dia de estréia do Big Brother Brasil e minha casa já está cheia.

Mulheres, homens, miniaturas e colegas de idade trouxeram bandejas com salgados e alguns refrigerantes.

Este ano resolvi começar a usar o estilo literário do reconto que os filósofos clássicos usavam, por isso farei meu discurso e meu discípulo Bob recontará por escrito.


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Parte 2 – O reconto de Bob

Q.A. (Quase Ata)

As vinte horas da noite, do décimo oitavo dia, do mês de setembro, do ano de dois mil e doze, na casa de Zé da Rádio, na cidade de Itaberaba, na Chapada Diamantina, no estado da Bahia, no Brasil, na América do Sul e assim por diante, na presença da galera da rua de Zé da Rádio, inclusive em minha presença, reuniram-se os senhores, senhoras e miniaturas ao término desta assinado, para ouvir o “Discurso de Zé da Rádio” sobre o programa Big Brother que estréia nesta noite. Pretende-se esta, reduzir a termo o referido discurso conforme for compreendido por mim, objetivando alcançar a compreensão dos ensinamentos de Zé da Rádio e o enriquecimento do conhecimento popular local com esta codificação escrita dos saberes de conteúdos tão ricos provenientes do intelecto de Zé da Rádio. Introduzida esta Q.A. com os elementos básicos que aprendi ao ler sobre Metodologia do Trabalho Científico, passo a narrar esta reunião. Zé da Rádio, usando sua cansada calça social preta, sua blusa social cinza e seu surrado chapéu de couro, apoiado em sua bengala produzida com madeira de Aroeira, explicou que: programas do tipo Big Brother, criticado por grande parte da sociedade, permite aprender mais sobre a humanidade, ao tempo em que seus participantes são experimentos ao tempo em que seus participantes são experimentos de análises psicológicas a nível nacional, já que são conduzidos pela produção como ratos de laboratório estimulados positiva e negativamente com base na psicologia behaviorista que conduz ou intensifica as manifestações psicológicas dos indivíduos estudados, por exemplo, quando a produção reduz a alimentação a tendência é estimular brigas, e se separa os grupos a tendência é aumentarem as afinidades, o mesmo acontece na sociedade quando o excesso de despesas acaba por gerar conflitos familiares e consequentemente transformações na estrutura das família; ainda quanto ao Big  moralmente, Brother, observemos que ao longo das semanas nossas nossas opiniões - de punho exclusivamente moral – mudam e conduzem a final os participantes de perfis menos reprováveis  característica que inverte-se na final quando premiamos com a vitória o participante mais moralmente aprovável; assim, compreendamos que nossos julgamentos refletidos no voto da eliminação ou na escolha do campeão são frutos de um conflito moral interno nosso, ou seja, de uma batalha entre nossos desejos conscientes ou não, tal como de nossa experiências de vida; contudo, reflitamos quão bom seria se esta análise moral aplicada no momento de se emitir um voto num reality show também fosse usada para decidir um voto eleitoral! Sem mais palavras, Zé da Rádio, as vinte e três horas e cinquenta minutos da noite,
O dia dezoito de setembro de dois mil e doze, encerrou com o desejo de “boa noite” a reunião em sua casa. Eu, Bob, escrevi esta Q.A. e dou-a ciência e fé, sob o testemunho das pessoas que a presenciaram e assinam abaixo.
Itaberaba-Ba, 18.09.2012.